segunda-feira, 15 de outubro de 2012

8º dia - Puerto Maldonado --> Cusco


14.09.2012 - Sexta-Feira - De Puerto Maldonado a Cusco - 430 Km


 De Puerto Maldonado a Cusco - 430 Km


Logo cedo partimos em direção a Cusco. Sabíamos o que iríamos enfrentar, e a ansiedade era grande para chegar à Cordilheira dos Andes. No hotel mesmo eu retirei uma peça da caixa do filtro de ar da moto, que era para dar mais abertura à entrada de ar, pois seria melhor para enfrentar a altitude. Ao começarmos a avistar a cordilheira, o Nico..., bom..., ele "foi pro inferno pela terceira vez...", mas não foi o pneu desta vez, e sim a corrente da moto que arrebentou. No início silêncio, para ver o tamanho do estrago. Mas quando vimos que foi somente a corrente e que ele tinha uma reserva, aí foi só risadas e piadinhas. E foi o Nico lá trocar a corrente e nós fazendo piadas, filmando e tirando fotos. 

Nico trocando a corrente de sua moto, que resolveu arrebentar rumo à Cordilheira dos Andes

Beleza, tudo resolvido, seguimos em frente. O contraste daquela estrada impecável  com as cidades pobres era grande. A cordilheira já mostrava sua cara, e o frio aumentava à medida que a altitude aumentava também, mostrando na prática o que todos aprendemos nas aulas de física... "quanto maior a altitude, menor a temperatura, a umidade e a pressão atmosférica...". Bom, a menor pressão nós sentimos quando fizemos a primeira parada em um comércio de uma pequena vila no alto das montanhas. Ao descer da moto bateu uma tontura em todos nós. Era o "soroche", nome dado ao mal das altitudes. Era o ar rarefeito das altitudes, pois com menos oxigênio no ar, o corpo sofre para fazer qualquer esforço. Estávamos a mais de 3.000 metros de altitude, e sem adaptação ainda do nosso corpo. De cara a mulher do estabelecimento nos ofereceu folha de coca, que prontamente compramos e usamos. Basta um punhado de folha (seca) no canto da boca e deixar ela soltar um caldo, que depois de algum tempo o efeito do "soroche" vai aliviando. Também aproveitamos para abastecer as motos. Só que não em posto de gasolina, e sim no estabelecimento mesmo, na base de "jarras de gasolina", que os moradores de lá mantém estocados. Após comer vários tipos de bolachas no local (já que não tinha nenhuma churrascaria rodízio por perto, kkkkk), e colocarmos nossa roupa térmica, balaclava e luvas mais grossas, seguimos em frente. Estranhei que minha luva de frio não servia mais em minhas mãos, e que só mais adiante fui descobrir o motivo.
Minha moto já começava a perder potência, pela falta de oxigênio no ar, e quanto mais alto, menos oxigênio. Como minha moto era carburada, ela não se adapta automaticamente à diferença de altitude como nas motos injetadas. Mas mesmo assim ela se comportou bem, apenas perdendo potência e falhando um pouco, mas consegui manter uma boa velocidade ainda, apesar de enfrentarmos muitas, mas muitas curvas mesmo... O visual era incrível, e o que menos queria naquele momento era correr com a moto, e sim ir bem devagar e apreciar aquela paisagem. A vegetação ia mudando do verde para o palha, e mais adiante nem vegetação havia mais, somente pedra, areia e gelo.  Quando chegamos a uma placa onde indicava 4.725 metros de altitude, paramos. 

Mário, a 4.725 metros de altitude.

Jackson, a 4.724 metros de altitude, pois ele é mais baixinho...

Serjão, a 4.725 metros de altitude
Nico, a 4.725 metros de altitude.


Jackson e seus amiguinhos peruanos. Eles com as bolochas nas mãos.

Ali era o ponto mais alto da estrada. O frio era de 0,5 grau positivo, mas parecia menos. Dava para ver que caia uma neve bem fraca. De repente chegaram a nós 2 crianças moradoras do local (sim, tem gente que mora lá...). Um menino e uma menina, muito pequenos mas bem espertos. Lembrei que tinha umas bolachas no bolso e ali senti as privações que aquelas crianças devem passar. Assim que viram a bolacha sair do meu bolso, a menina "correu" até mim para pegar, mesmo ela estando a menos de 2 metros de distância de mim. Senti não ter mais bolachas a oferecer. Elas tinham o rosto queimado do frio.



Tiramos umas fotos e rapidamente seguimos viagem, para começar a "descer a serra" e aliviar o frio. A paisagem continuava incrível, e o frio ainda intenso. Já era noite quando chegamos a Cusco, depois de 430 Km desde Puerto Maldonado. Conseguimos um hotel a um preço razoável, mas sem "cocheira"(garagem), mas conseguimos também uma perto do hotel. Guardar a bagagem foi um sacrifício, pois estávamos a 3.400 metros de altitude, e ainda estávamos sem adaptação. Normalmente precisamos de uns 2 dias para o corpo começar a se adaptar à altitude, ou pelo menos o suficiente para não sofrermos tanto com os efeitos. Saímos à noite para jantar, mas o máximo que consegui engolir foi uma sopa bem rala, e fui direto pro hotel dormir, antes de todos, com muita dor de cabeça e desânimo. 

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