14.09.2012 - Sexta-Feira - De Puerto Maldonado a Cusco - 430 Km
De Puerto Maldonado a Cusco - 430 Km
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Logo cedo
partimos em direção a Cusco. Sabíamos o que iríamos enfrentar, e a ansiedade
era grande para chegar à Cordilheira dos Andes. No hotel mesmo eu retirei uma
peça da caixa do filtro de ar da moto, que era para dar mais abertura à entrada
de ar, pois seria melhor para enfrentar a altitude. Ao começarmos a avistar a
cordilheira, o Nico..., bom..., ele "foi pro inferno pela terceira
vez...", mas não foi o pneu desta vez, e sim a corrente da moto que arrebentou. No início
silêncio, para ver o tamanho do estrago. Mas quando vimos que foi somente a
corrente e que ele tinha uma reserva, aí foi só risadas e piadinhas. E foi o
Nico lá trocar a corrente e nós fazendo piadas, filmando e tirando fotos.
Nico trocando a corrente de sua moto, que resolveu arrebentar rumo à Cordilheira dos Andes |
Beleza, tudo resolvido, seguimos em frente. O contraste daquela estrada
impecável com as cidades pobres era
grande. A cordilheira já mostrava sua cara, e o frio aumentava à medida que a
altitude aumentava também, mostrando na prática o que todos aprendemos nas
aulas de física... "quanto maior a altitude, menor a temperatura, a
umidade e a pressão atmosférica...". Bom, a menor pressão nós sentimos
quando fizemos a primeira parada em um comércio de uma pequena vila no alto das
montanhas. Ao descer da moto bateu uma tontura em todos nós. Era o
"soroche", nome dado ao mal das altitudes. Era o ar rarefeito das
altitudes, pois com menos oxigênio no ar, o corpo sofre para fazer qualquer
esforço. Estávamos a mais de 3.000 metros de altitude, e sem adaptação ainda do
nosso corpo. De cara a mulher do estabelecimento nos ofereceu folha de coca,
que prontamente compramos e usamos. Basta um punhado de folha (seca) no canto
da boca e deixar ela soltar um caldo, que depois de algum tempo o efeito do
"soroche" vai aliviando. Também aproveitamos para abastecer as motos.
Só que não em posto de gasolina, e sim no estabelecimento mesmo, na base de
"jarras de gasolina", que os moradores de lá mantém estocados. Após
comer vários tipos de bolachas no local (já que não tinha nenhuma churrascaria
rodízio por perto, kkkkk), e colocarmos nossa roupa térmica, balaclava e luvas
mais grossas, seguimos em frente. Estranhei que minha luva de frio não servia
mais em minhas mãos, e que só mais adiante fui descobrir o motivo.
Minha moto
já começava a perder potência, pela falta de oxigênio no ar, e quanto mais
alto, menos oxigênio. Como minha moto era carburada, ela não se adapta
automaticamente à diferença de altitude como nas motos injetadas. Mas mesmo
assim ela se comportou bem, apenas perdendo potência e falhando um pouco, mas
consegui manter uma boa velocidade ainda, apesar de enfrentarmos muitas, mas
muitas curvas mesmo... O visual era incrível, e o que menos queria naquele
momento era correr com a moto, e sim ir bem devagar e apreciar aquela paisagem.
A vegetação ia mudando do verde para o palha, e mais adiante nem vegetação
havia mais, somente pedra, areia e gelo. Quando chegamos a uma placa onde indicava
4.725 metros de altitude, paramos.
Mário, a 4.725 metros de altitude. |
Jackson, a 4.724 metros de altitude, pois ele é mais baixinho... |
Serjão, a 4.725 metros de altitude |
Nico, a 4.725 metros de altitude. |
Jackson e seus amiguinhos peruanos. Eles com as bolochas nas mãos. |
Ali era o ponto mais alto da estrada. O frio
era de 0,5 grau positivo, mas parecia menos. Dava para ver que caia uma neve
bem fraca. De repente chegaram a nós 2 crianças moradoras do local (sim, tem
gente que mora lá...). Um menino e uma menina, muito pequenos mas bem espertos.
Lembrei que tinha umas bolachas no bolso e ali senti as privações que aquelas
crianças devem passar. Assim que viram a bolacha sair do meu bolso, a menina
"correu" até mim para pegar, mesmo ela estando a menos de 2 metros de
distância de mim. Senti não ter mais bolachas a oferecer. Elas tinham o rosto queimado
do frio.
Tiramos
umas fotos e rapidamente seguimos viagem, para começar a "descer a
serra" e aliviar o frio. A paisagem continuava incrível, e o frio ainda
intenso. Já era noite quando chegamos a Cusco, depois de 430 Km desde Puerto
Maldonado. Conseguimos um hotel a um preço razoável, mas sem
"cocheira"(garagem), mas conseguimos também uma perto do hotel.
Guardar a bagagem foi um sacrifício, pois estávamos a 3.400 metros de altitude,
e ainda estávamos sem adaptação. Normalmente precisamos de uns 2 dias para o
corpo começar a se adaptar à altitude, ou pelo menos o suficiente para não
sofrermos tanto com os efeitos. Saímos à noite para jantar, mas o máximo que
consegui engolir foi uma sopa bem rala, e fui direto pro hotel dormir, antes de
todos, com muita dor de cabeça e desânimo.
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